domingo, 26 de maio de 2013

Solon Pinheiro: “As pessoas não vão cobrar do PCdoB porque o prefeito eleito é Vane”

O vereador Solon Pinheiro (DEM) é hoje a voz mais ouvida no campo de oposição ao prefeito de Itabuna, Claudevane Leite (PRB). Nesta entrevista ao ITABUNA NOTÍCIAS, Solon, eleito pela primeira vez em 2008 com votação expressiva, e à época na condição de uma dos mais jovens vereadores da história de Itabuna, faz críticas severas ao governo. Ele questiona, por exemplo, a mudança nos posicionamentos que eram defendidos pelo prefeito e seu vice, Wenceslau Júnior (PCdoB), quando ocupavam mandato no legislativo. Para Pinheiro, há incoerência na postura de ambos e uma demora excessiva para a administração definir o caminho que deseja para a cidade. ITABUNA NOTÍCIAS – O senhor tem acompanhado a negociação entre governo e professores? SOLON PINHEIRO – Sim, inclusive estive em reunião na semana passada no gabinete do prefeito, quando as dirigentes do Sindicato dos Professores Municipais revelaram situações que acontecem na educação do município que me deixaram preocupado. Elas disseram que hoje existem cerca de 400 professores da rede recebendo sem trabalhar por não terem função. O governo não sabe onde colocar esses professores, em que sala de aula colocar, então eles estão ganhando sem trabalhar. Alegaram também que há algumas escolas da rede municipal que não estão fornecendo a merenda aos alunos. Ainda há outra situação preocupante: elas alegaram que existem funcionários recebendo o salário do Fundeb, mas que prestam serviços em outra secretaria, o que não é permitido por lei. A gente sabe que a verba do Fundeb é carimbada, específica para a educação. Ainda há o problema de professores contratados para ministrar 40 horas que estão ministrando apenas 20. Esse tipo de coisa tem que ser investigada. IN – As dirigentes do Simpi formularam alguma denúncia junto à Câmara? SP – Não, elas colocaram isso para o próprio prefeito Claudevane Leite. O prefeito disse que ia investigar para resolver, mas esperemos que isso não seja a passos de tartaruga. IN – A categoria acabou anunciando uma greve, pois rejeitou a proposta de reajuste oferecida pelo governo. Qual é seu posicionamento a esse respeito? SP – Primeiro o governo disse que não seria possível reajustar o salário em percentual nenhum, depois ofereceu 5,57%. Os professores responderam que é pouco, então houve uma reunião com o prefeito, na qual se chegou a 7,97%, o que, ao nosso entendimento, ainda é pouco. Nos últimos quatro anos, o pior reajuste foi de 12.5%, tendo acontecido reajuste de até 22%. A gente sabe que recursos existem, a questão é prioridade, e todo governo tem que saber o que é isso e tem que ter planejamento. Isso está demonstrando apenas que este governo não tem a educação como prioridade. Eu tenho um parecer técnico do sindicado no qual é calculada uma estatística que mostra que há sim a possibilidade de se chegar aos 15% propostos pela categoria. Falta vontade política, mas é tecnicamente possível. IN – Quando eram vereadores, o atual prefeito e seu vice defendiam reajustes mais elevados. SP – Na época em que eram vereadores, Vane e Wenceslau criticaram o governo quando houve um aumento de 15%. Eles diziam, em plenário, e eu sou testemunha porque fui colega deles, que a educação tinha que ser prioridade. Então agora, como prefeito e vice, o discurso mudou? Eles estão propondo também a alteração jurídica do regime celetista para estatutário, no entanto, ao conversar com os servidores públicos, o que se percebe é que nenhum deles tem interesse nessa alteração. Inclusive, já estou sabendo que no próximo dia 29 haverá uma audiência pública na Câmara, na qual o governo irá propor essa mudança de regime. Quando eram vereadores eles defendiam os interesses do servidor público, chegavam a dizer que projetos como este não passariam naquela casa, então, o que será que mudou? O discurso hoje, como prefeito e vice, é completamente diferente do que eles pregavam antes. IN – Na sua avaliação, o governo é ruim? SP – Eu acho que a gente não pode ser político por interesse em vantagens pessoais. Primeiro você tem que ter um lado, e se eu disser que não tem gente que presta no governo é mentira; se eu disser que dentro do DEM não tem ninguém que não presta, também é mentira. Às vezes até dentro da igreja, que é o lugar mais santo do mundo, a gente encontra gente ruim. Então, na política não é diferente, o que você precisa ter é ideologia, lado, postura. Então, como não acredito neste governo, não vou para o governo apenas pelas vantagens que ele pode oferecer. Eu sou Democratas, nosso partido apoiou a reeleição do Capitão Azevedo. Acabar a eleição e ir correndo direto para os braços de Vane não existe. Seria uma incoerência muito grande. IN – Quais são os piores pecados deste governo? SP –Primeiro é a falta de planejamento. Inclusive, isso era muito discutido na Câmara na gestão anterior. Estão governando a cidade de maneira improvisada, na base do tapa-buracos. Acontece um problema? Vamos resolver. Mas não há planejamento. Esse para mim é o principal problema da gestão de Vane, não planejar a cidade. Para governar uma cidade como Itabuna, é preciso estabelecer prioridades. Se a gente se perguntar qual a prioridade do governo Vane, a gente não identifica. Além disso, também criticamos a falta de comando. Quando vereador, Vane fazia duras críticas a Azevedo, dizendo que não era ele quem mandava na prefeitura, e o que a gente percebe é que é exatamente isso que acontece hoje no governo Vane. Hoje, muita gente do próprio governo afirma que o prefeito não manda, quem manda é o PCdoB. IN – Se muita gente afirma que quem governa de fato é o PCdoB, as críticas não deveriam ser dirigidas ao partido do vice em vez do prefeito? SP – As críticas não são feitas ao vice porque, quer queria quer não, o prefeito de direito, eleito pelo povo e responsável por governar a cidade, é Vane. Então, as pessoas não vão cobrar do vice, da agremiação partidária PCdoB. A população vai cobrar a solução dos problemas ao prefeito. E ele também não pode jogar para ninguém o dever de solucionar os problemas do governo, porque é ele quem tem o poder de decisão. Eu acho que o bom líder precisa saber ouvir, tem que respeitar as alianças políticas, mas tem quem deve ter o comando é ele. A responsabilidade das coisas positivas ou negativas é dele. Falta isso no prefeito, eu acho que está inseguro. Não sei quais foram os acordos feitos com o PCdoB, não sei se existem dívidas de campanha com o partido, não posso afirmar isso, mas o que a gente percebe é uma subserviência muito grande do prefeito com o PCdoB. Isso eu acho que é muito preocupante para a gestão e para as direções da nossa cidade porque vai chegar um ponto em que ele vai ter que se posicionar, e escolher entre atender à demanda do PCdoB ou à da população. IN – Mas não é normal que o prefeito retribua o apoio que teve do PCdoB? SP – A gente reconhece que o PCdoB foi decisivo na eleição do prefeito Vane, sem dúvida. Foi quem colocou recursos na campanha, quem colocou a militância na rua, mas até onde vai esse compromisso? Até onde vai esse compromisso político, de cargos, de indicações do partido, deixando a população em segundo plano? Já que Vane fala tanto em diminuir receitas, por que ele não diminui a receita cortando alguns cargos do PCdoB, que, segundo aliados, têm mais de 50% dos cargos comissionados? Se for preciso diminuir despesas cortando gastos com funcionários, será que ele teria pulso para isso? Ele chegou a dizer, em uma reunião na qual eu estava presente, que pode chegar ao ponto de Itabuna ter que demitir efetivos. Então, por que não demitir comissionados do PCdoB? Essas coisas têm que ser colocadas na balança. O que será prioridade mesmo no governo? IN – No que diz respeito a essas despesas com pessoal, há notícia, por exemplo, de uso indevido de instrumentos como a função gratificada, que eleva a remuneração de alguns servidores. SP – Eu, sinceramente, não sou contra a função gratificada, desde que essa função gratificada tenha retorno para a população. Se você pega um servidor que ganha entre 700 reais e tem a função gratificada, vai ganhar mais e vai ocupar um cargo com maior responsabilidade, a carga horária vai ser maior, então justifica a função gratificada. A nossa preocupação é fazer farra com função gratificada sem justificativa. Se trabalha só um turno, o que justifica essa função gratificada? Se não mudou em nada o serviço, por que a função gratificada? IN – Você concorda que o prefeito recebeu uma herança maldita do governo anterior? SP – O pessoal do governo diz muito isso, mas considero uma colocação infeliz. Vane foi vereador, então ele já sabia dos problemas da cidade, já sabia dos erros e dos acertos do governo Azevedo. Se fala em herança maldita e já sabia que seria assim, ele não deveria ter saído candidato. Ele já sabia antes de concorrer às eleições que existiam problemas, então se eu estou pleiteando uma vaga de prefeito já sabendo dos problemas, tenho consciência de que se me eleger vou enfrentar tais problemas. Vane herdou problemas da gestão passada como todo gestor herda. O que me preocupa é que está demorando muito para o governo se encontrar. IN – Qual seria a razão dessa dificuldade? SP – A gente sente que Vane tomou posse em janeiro, mas até agora está batendo cabeça. O que se percebe é que ele assumiu a cadeira sem noção nenhuma da realidade. É preocupante que isso demore muito, que as soluções venham a passos de tartaruga, passem os quatro anos e Itabuna continue do jeito que está. IN – Como você avalia os dois governos, fazendo uma comparação e considerando o mesmo período, ou seja, o início das gestões? SP – Fazendo uma breve análise do governo Vane, eu não tenho dúvidas de que o governo Azevedo foi melhor, levando em conta pelo menos o começo de cada um. Espero que o governo Vane melhore, porque torcer contra o governo Vane é torcer contra a cidade. A gente se posiciona como oposição, mas não para torcer contra, muito pelo contrário, a gente quer fazer críticas ao que tem de ser criticado, até para alertar o governo. Às vezes a gente fala coisas que a base não tem coragem de falar. A gente espera que o governo Vane seja melhor, porque isso é torcer pela cidade. Para os quatro anos do governo Azevedo eu daria nota 7, pois acho que houve falhas, problemas, mas foi um governo que, na medida do possível e dentro dos recursos que tinha para trabalhar, fez coisas importantes na cidade. IN – E que nota você dá ao governo Vane até agora? SP –Daria nota 5. IN – Algumas obras estão pendentes, como é o caso da Avenida Amélia Amado. Como o senhor vê essa situação? SP – Primeiro, eu acredito que esta obra, que foi o marco do governo Azevedo, ainda não foi concluída por questões políticas. Quando o prefeito é aliado ao governo do estado e ao governo federal, as coisas acontecem mais facilmente. Como Azevedo não tinha aliança política nem com o governo do estado nem com o governo federal, acredito que burocratizaram demais os recursos, e isso dificultou que a obra fosse inaugurada como a gente esperava. Mas agora é diferente. Nós agora temos prefeito e vice-prefeito que são da base política do governo estadual e do governo federal. Então, agora não justifica. Prova disso é que não houve nenhum empecilho para a volta da gestão plena da saúde. IN – Você considera o retorno da plena uma vitória do atual governo? SP – Não é mérito do atual governo porque foi uma luta construída na passada. Foram recolhidas 20 mil assinaturas, a população foi mobilizada para participar dessa luta, isso foi feito na gestão passada. O retorno da plena resulta de uma luta de anos. IN – Você acha que o retorno da plena vai resolver o problema da saúde de Itabuna? SP – Espero que sim. Agora, não poderá mais haver o discurso de que faltam recursos, porque o governo Vane terá recursos para trabalhar. Tem toda a autonomia financeira na saúde. IN – Você retornou à Câmara de Vereadores graças a uma liminar judicial, o que não é uma situação segura. Como se sente nessa posição? SP – Muito à vontade porque eu não entrei pela janela. A gente precisa moralizar as campanhas desse país, precisa deixar o povo escolher livremente seus candidatos, e acabar com o poder econômico das campanhas. Nós ganhamos a ação rapidamente, em primeira instância. O candidato Carlos Coelho se elegeu de maneira ilícita, foram mais de 500 ligaduras feitas em três meses de campanha. O que ele fez em três meses não foi feito em um ano fora do período eleitoral. Primeiro, ele não se desincompatibilizou do cargo, então houve má-fé. IN – A sua votação em 2008 foi uma das maiores para o legislativo itabunense, mas caiu em 2012. A que você atribui a queda no desempenho? SP – Primeiro a gente tem que lembrar que aumentou a quantidade de vereadores. Da eleição passada para esta, dobrou o número de candidatos. E na Câmara aumentaram as vagas de 13 para 21. Isso fez com que todos os pré-candidatos se achassem com chance de ser eleitos e todo mundo confirmou a candidatura, o que diluiu os votos. Alem disso, reconheço que enfrentamos uma eleição desgastada, por conta do desmando em que se encontrava a Câmara de Vereadores. O que eu posso afirmar é que não cometi nenhum crime, não participei de nenhum desvio de recursos públicos, tanto é que já estou fora dos processos. Mas aquilo afetou a casa como um todo. IN – Azevedo não se reelegeu, mas fez a maioria dos vereadores. No entanto, o atual governo tem maioria no legislativo. SP – Eu acho que em política a gente tem que ter lado, mas muitos não pensam assim. Muitos se elegem e passam a defender os interesses do executivo, não os do legislativo, mas eu acho isso errado. Minha preocupação com essa Câmara é que há muitos vereadores de primeiro mandato, sem experiência. IN – E como está a relação entre Vane e os vereadores? SP – É um governo que não tem diálogo. Tanto que as críticas são feitas em quase toda sessão pelos membros da bancada. Vereadores vão ao gabinete do prefeito e são maltratados, ficam de castigo tomando chá de cadeira. Isso os vereadores ligados governo, imagine a oposição. Eu tenho uma emenda do DEM, do ano passado, de R$ 592 mil para pavimentação, e estou há cerca de um mês tentando uma conversa com o prefeito e não consigo. Ou seja, não consigo diálogo para trazer uma emenda importante para a cidade. Aí você percebe a falta de diálogo entre executivo e legislativo. Isso é ruim, porque é importante que Prefeitura e Câmara andem com independência, mas em colaboração. O prefeito, como ex-vereador, deveria ter uma atenção maior ao legislativo. http://www.itabunanoticias.com.br

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